quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Peça teatral

Auto da Barca do Inferno - Figuras contemporâneas (1ª parte)

Texto original: Gil Vicente - Adaptação: Tetê Macambira e Grupo Sem Nome
Personagens:

Anja
Diaba
Playboy
Bobo
Pastor
Vanderléia Kelly

Bebel
Adevogado
Bin Lada

3 cavaleiros

(Ao fundo, impressão de um lago. Abicadas à beira, duas barcas diametralmente colocadas. Se possível, areia na boca de cena. Luz soturna. Entra a Anja, vestida de branco, mais parece uma neo-hippie que uma delegada do paraíso. Está carregando uma bolsa estampada, da qual escapa pontas de écharpes, incensos, pincéis etc... Ao entrar, a luz vai ficando mais clara, como se dela irradiasse uma luz da manhã. Entra e observa a barca colocada na outra ponta. )


ANJA 1: (falando para a outra anja): Ihhhhhhhhhhhhh... mas que barca mais triste, né!!! Assim não dá! Olha! (e vira a cabeça para cima como se falasse para alguém superior, mas sem cerimônias) Não pense que vou deixar uma ou outra alma entrar numa canoa quebrada dessa! Se ao menos, fosse a praia de Canoa quebrada, tuuuuuuuuuuuuudo bem!

ANJA 2: Concordo com você, mais que penúria essa pobre!!! Não, assim não dá! Ainda bem que vim preparada: trouxe flores, fitas, incensos e tintas para que a minha barca seja a maaaaaiiiiiiiiiiiiiiiis linda deste entrementes do lago do destino.

ANJA 1: (Vira-se ao público) É, porque qualquer um de vocês quando morrer, vai querer encontrar banda, alegria e tudo o mais na hora de selecionar quem vai para o lado dos danados (aponta a barca próxima) e quem vai (se dirigindo à outra barca) à terra abençoada! E quem – de vocês – gostaria de ir ao paraíso numa tranqueira daquelas????... não, não e não! Vamos dar um jeito nisso!

ANJA 2: (Entristece-se e vira-se para a platéia com pesar na fisionomia) Se bem que são bem poucas as almas que têm alcançado a graça eterna... Estão todos tão acostumados com os mal-feitos que nem sei... Mas (apruma-se, de súbito), vamos aguardar que hoje será melhor!! Hoje pode ser o dia que todos serão salvos!!!
DIABA (entrando, ainda se ajeitando. Ela está vestida para matar: vestido vermelho, meia arrastão, sapato preto de salto alto, boá preto sobre os ombros e ajeita uma tiara vermelha com dois chifres de acetato vermelhos com baterias pisca-pisca inseridos): Iludida! Tá achando que a mamãezinha aqui perdeu o jeito, é?... hahaha!!! Sua boba!!! Todos que vierem hoje serão meus..........meus................... mEEEEEEEEEEEEEEEEUUUUUs! Huhuhuhu!
ANJA 1: (virando-lhe ostensivamente as costas e se dirigindo à sua barca): ihhh ta se achando!... De repente, me deu uma vontade louca de acender um incenso! (Chega à sua barca, deposita no chão a sacola e começa a organizar as coisas que trouxe para enfeitar a nau. Acende um incenso. Prolonga esse processo com dedicada atenção e paciência, enquanto a Diaba se anuncia ao público)
DIABA: Vai, vai, tonta duma figa! Santinha do pau oco! Não vai ter mesmo o que fazer o dia todo! (Liga as baterias dos seus chifres) Pooooooodre de fashion esse lance aqui, ó!!! Quem foi que disse que no inferno não se segue a moda? .. Atenção para a diaba de plantão: vestidinho básico vermelho de Pior, sapatinhos incandescentes de (cantarola, imitando o jingle da Eveíza) Torturiza.... e, para completar acessórios da Caloraço!! (requebra-se, deliciada) Isso é que é estar na
moda!! Não sou (fala mais alto e intencionalmente à Anja) como umas e outras, que compram tudinho em pontas de estoque e liquidação..... (cantarola desafinadamente) lá, lá, lá....
ANJA 2: (suspira, aborrecida): Vaidade e ganância são pecados capitais, minha cara. E Preguiça também. Portanto, nos deixe trabalhar na minha barca, sua afetada!
DIABA: Hihihihi.. se queimou, foi, bebé?
ANJA 1: Sua endiabrada, tome tento que lá vem o primeiro freguês e tá com pinta de ser todo seu....
DIABA: Heim??? Ops! (ao público) Lá vem o primeiro.....

CENA 1
As mesmas e Playboy
(Música incidental: Retrato de Playboy 2, de Gabriel, o Pensador. Entra um playboy vestido com roupas de grife, tentando falar ao celular. Entra desfilando, exibindo-se à platéia. Se possível, paquera com uma ou outra “fã”. Vai até o fim da boca de cena e retorna. Música pára. Ele se dirige à Diaba)

PLAYBOY: Para onde é que vai essa barca, heim?
DIABA: Vai para a terra maldita, e já está de partida.
PLAYBOY: E a senhora vai para lá, é?
DIABA: (sedutora): É isso aí. Vamos? (roça-lhe o boá no rosto)
PLAYBOY: Essa sua barca ‘tá bem quebrada, não é?
DIABA: (mesmo jogo): Ora!!! O senhor a está vendo do lado de fora. Ali dentro é bem melhor!!!
PLAYBOY: Mas para onde é mesmo que vai, heim???
DIABA: (deliciada): Diretamente para o inferno!
PLAYBOY: (desvencilha-se da Diaba): Ô terrinha mais sem graça essa sua, heim?
DIABA: Vai ficar me zoando, é?
PLAYBOY: E tem alguém querendo ir nessa banheira?
DIABA: Sabe que eu ‘tô te achando perfeitinho para ir?
PLAYBOY: É você quem ‘tá dizendo...
DIABA: (irônica): E por que mesmo espera Vossa Senhoria escapar de ir ao Inferno, posso saber?
PLAYBOY: Tem um monte de gente rezando por mim lá embaixo.
DIABA: Ahhhnn... quer dizer então que você li-te-ral-men-te deita e rola lá embaixo, esperando que rezem por você ao vir para cá? Xiiii.. Pára de enrolar e entra logo aqui; deixa de conversa, playboyzinho!
PLAYBOY: O que é que é? To fora! ‘Tá pensando que é assim, é?
DIABA: Embarca logo! Foi esse o que você escolheu, portanto, contente-se! Ajoelhou, neguinho? Agora tem que rezar!
PLAYBOY: Não tem nenhuma outra barca por aqui?
DIABA: Não senhor! Você até já me deu o sinal de que viria para cá.
PLAYBOY: (espantado): E que sinal foi esse?
DIABA: Ah!... e já esqueceu as armações que aprontou lá por baixo, foi? Sempre se aproveitando da sua posição social e pisando nos mais pobres, é? Pois, filhinho, curtiu!? agora aproveite o que plantou! Entre logo nessa barca que eu já ‘tô perdendo a paciência!
PLAYBOY: Nã-nã-ni-na-não! Peraí. Devagar. Vou praquela outra barca. (Tenta chamar a atenção da Anja) Ei! Ei! EI! Ei, sua hippie! ‘Tá ouvindo não, é sua lesada? Agora foi!!! Aqui só tem incompetente! ‘Tão achando que ‘tão tratando com qualquer um, é? EIIII...! Tu aí, ô de branco! Ei, songa-mouca! Quero entrar nessa barca aí enfeitada! (Dirige-se à barca da Anja) Ei!!! (à parte) Mas que mau gosto, heim??? (à Anja) Oi!
ANJA 1: (desprezando-o): Que é que cê quer, hem?
PLAYBOY: É essa barca aí que vai pro Paraíso, é?
ANJA 1: Pra que é que cê quer saber?
PLAYBOY: Queria ir pra lá.
ANJA 1: Disseste bem: Q-U-E-R-I-A-S. Mas não irás. Infelizmente para ti. Felizmente para mim. ‘Tá?
PLAYBOY: Ah, qual foi? Sabe com quem está falando?!? Luís Victor Alcântara DE Lamartine E Belucci. É melhor para você me colocar aí dentro, senão...
ANJA 1: Senão o quê? Vai contar pro papai, é?... Se liga, meu! Tu morreste e teu nome não vale nada. ‘Tá ligado, maluco?
PLAYBOY: Ô meu!! Dá um jeitinho aí, vai... Olha... (olha para um lado e para o outro enquanto tira a carteira do bolso traseiro da calça).. tenho um bilhete de entrada... (mostra dinheiro)
ANJA 1: Dinheiro aqui, como teu nome, não vale nada.
PLAYBOY: Mas (mostra os cartões de crédito) tenho outras opções: Visacard, hipercard... tcharans!, Visaelectro e... mastercard!
ANJA 1: É, mas para entrar no céu, não tem preço.
PLAYBOY: Vem cá, gatinha! Você não ‘tá no seco, não, heim? (tenta agarrar a Anja)
ANJA 1: Galinhando desse jeito, nem aquela ali (apontando desprezivelmente para a Diaba) vai te querer.
DIABA: (ao longe): Que foi, heim?^’Tá falando de mim, né? Se faz de santa mas passa todo o além-vida me criticando!
ANJA 1: Nada não... (à parte) ô mulherzinha estressada! Deve ser o calor da menopausa. (Ao playboy) Pois, seu Fulano-não-sei-das-quantas- E- etc, trate de tirar o cavalinho da chuva e vá ciscar naquele galinheiro. Vá! Passa!
PLAYBOY: Maior malfeitão! Olhaí!.... (volta cabisbaixo à Diaba)
(Ao ver o Playboy voltando, Diaba dá uma gargalhada triunfal e se ajeita toda para recebê-lo)
DIABA: Deixa para lá aquela tonta... Entra logo aqui, que somos farinha do mesmo saco. Pega logo os remos e chegando lá, serás bem atendido. Entra! (insinua-se)
PLAYBOY: Mas que calor aqui, heim? Maldito este forno! Que inferno!
DIABA: (sorri e começa a chamar mais gente) Olha a barca! Olha a barca! Vamos, que quero ir logo e não tenho o dia todo livre! Minha agenda está lo-ta-da-!

CENA 2
Os mesmos e Bobo
(Música incidental: Balada do Louco, por Mutantes. Entra a Bob. Vestido de forma espalhafatosa e estranha; meias de cores diferentes, uma blusa desestruturada, nada parece dar certo com nada. Entra mexendo numa matraca e numa corneta azul, vermelha e branca. Ao entrar, brinca consigo mesmo, maldiz-se, reclama da vida, se possível, pergunta a um ou outro da platéia como vai a vida? O tempo tá bom? Etc... Isso tudo deve demorar apenas uns 3 a 5 minutos. Ele caminha sem rumo, sem apresentar um objetivo principal. A música pára. O Bobo se dirige à Diaba, que o observara por todo o tempo com um ar de insatisfação. Quanto à Anja, se divertia com as “marmotas” do Bobo.)

BOBO: Oxente! E tem tu aí , é?
DIABA: Quem é você?
BOBO: Sou eu. Essa barcaça é da gente, é?
DIABA: De quem?!?
BOBO: Dos abestados, é?
DIABA: Toda sua. Entra.
BOBO: Pulando ou voando, é?
DIABA: Como quiser. Entra!
BOBO: (olhando ao redor): Ôxe, adoeci e morri sozinho, é?
DIABA: Morreu de quê?
BOBO: De disenterícia, sô!
DIABA: De quê?!?...
BOBO: De caganeira, ôxi!!!
DIABA: Entra, põe logo o pezinho aqui!
BOBO: (vai colocando o pé, mas hesita): Êêêê.... pra que tanta pressa?
DIABA: Entra logo, senão quando a gente pegar o beco, você vai ficar sozinho aqui que nem quando morreu.
BOBO: Tenha calma aí, minha fia! Pra donde é que a gente vai mermo?
DIABA: Ao porto de Lúcifer
BOBO: Hã..?!?
DIABA: Ao inferno! Entra!
BOBO: Ao inferno!? Pera lá! Barca maldita, barca danada, barca perdida, barca dos endemoninhados! Tomara que vire e nunca volte à tona, tomara que emborque de borco e não mais desvire, tomara que se perca e vá parar nos costados dos infernos! Só quem entra aí é quem tem pareceria com o chifrudo, o tinhoso, o coisa-ruim, o inimigo, o cão, satanás, o sinistro, o errado, o filho abortado do céu, o malfeitor, o anjo negro, o vampiro doidão, o sanguessuga das almas benditas, o cornudo, o sem-jeito! Tomara queime no fogo do inferno, tomara seja escorraçado até mesmo do inferno! Ratinho da Giesteira! O demo que te pariu!Toma o pão que te caiu! Vai pra ponte que caiu! Hu! Hu! Hu! Maldito! Maldito sejas e que nunca encontre paz nem sossego!
(à medida que vai soltando todas essas imprecações e mais algumas, o Bobo vai se dirigindo à barca da Anja, que está sorrindo com os impropérios ditos pelo Bobo à Diaba)
BOBO: Ó da barca!
ANJA 2: Que queres?
BOBO: Não quer me passar para lá, não, heim?...
ANJA 2: E quem és tu?
BOBO: Não sou ninguém.
ANJA 2: Tu podes até passar, se quiseres. Tudo porque nunca fizeste mal a ninguém, pelo menos não de propósito. Tua simplicidade te basta para desfrutar dos prazeres celestiais. No entanto, espera aí um pouco, vamos ver se sobra vaga para ti...
BOBO: Esperar, é?... Por quê?
ANJA 2: Porque pode aparecer gente mais merecedora que tu. E não deves tomar o lugar de seu ninguém. Entendeste?
BOBO: Ôxi!! Entendi, sim senhora!!! A senhora fala bonito que faz gosto! Então vou ficando por aqui pra ver se me sobra um lugarzinho aí preu, ora se vou!!!
DIABA (à parte, despeitada): é isso mesmo, o céu só dá atenção aos que são abestados feito esse daí...

C E N A 3
Os mesmos e o Religioso

(Música incidental: “Eu era um bêbado..”. Entra o religioso. Trôpego, bebendo sofregamente de uma garrafa vazia de pinga, o paletó amarfanhado, a barba por fazer, a camisa de mangas compridas meio fora da calça, suja. Do bolso saem dinheiro, garrafas. Está agarrado a um microfone e fala como se estivesse orando no templo. Música pára. Ele se aproxima da anja, meio perdido entre as barcas)

RELIGIOSO: Glória a Deus! Ahh que beleza! eu sei aproveitar bem a vida... (cantando: ver a mulherada na madrugada ficando louca...)
DIABA: pois entra aqui que eu toco direitinho...
RELIGIOSO: Que é isso, minha filha?
DIABA: Tenho uma guitarra quente e faremos uma dupla sertaneja!
RELIGIOSO: Aaahnn.. música sertaneja? Éé.. pode ser. Mas para onde é mesmo que você quer me levar, heim, sua danadinha?!?
DIABA: Gentil amigo da cachaça e da farra, você vai beber com o demo, que ele já se prepara para beber na sua cabeça oca de quem só se aproveitou da fé alheia!
RELIGIOSO: Como é que euzinho possa ser condenado? (já estou até ficando sóbrio com essa história torta..) Um religioso tão dedicado, eloqüente e fiel a todas as mulheres!
ANJA 1: É, e é assim que muitos fiéis acabam se afastando da fé e indo parar nas mãos daquela ali ó (e aponta para a diaba); é por terem acreditado em pessoas tão indignas, tão levianas, que cometem pecados e fazem os outros cometerem também!
RELIGIOSO: Ah, minha senhora! Sem sermão, vai! Como eu já disse, a maioria trai, adultera, engana...
ANJA 2: E tu achas mesmo que um fazendo errado justifica você também fazer, é?... Nãããão... neguinho, cada um paga pelo próprio pecado e pelos pecados que fez o outro cometer.
RELIGIOSO: Pelo menos, não fazemos como uns e outros que estão aliciando menores de idade!
ANJA 1: Mas também não são todos! Se for procurar em cada religião, tem sempre alguém que comete algo errado. São homens pecadores como qualquer outro e que se deixam levar, muitas vezes, pela facilidade do erro.

DIABA: E aí é que eu entro... recebendo todos esses homens religiosos-só-da-boca-pra-fora aqui, na minha barca!! hahahaha
RELIGIOSO: Vixe!!! E o julgamento? Não vai ter não, é?
ANJA 2: Não basta colocar a mão na consciência e ver? Porque uma coisa você não pode negar; um homem da religião deveria ter mais consciência dos erros que comete. E isso é pecado sem volta!
DIABO: Olha, para você meu fio, não tem jeito: entra logo aqui.
PLAYBOY: Ei!!! Vai colocar qualquer um aqui dentro mesmo, é?
DIABA: Claro! Não comecei com você, seu pamonha? (ao religioso) Vamos, a sentença já foi dada. Entra!
RELIGIOSO: Vixe! E a dama diaba ‘tá ficando nervosinha, agora é?...
PLAYBOY: Ih, meu, até eu já estou com vontade de te dar um sossega leão aí, viu?
BOBO: Anda logo, seu abestado!!! Que porcos da tua laia eu enxoto é com vara (faz gesto de quem está açoitando com uma vara) Xô! Xô! Xô! Vai pra dentro do inferno que tu criou, mosca morta! Vai-te, com mil satanás!
RELIGIOSO: Bem, pelo parecer de todos, é o que eu mereço. Pelo visto, a tantos que enganei em vida, não consigo mais enganar ninguém, nem a mim mesmo...
DIABA (à parte): Ainda aprendo um dia a fazer crochê e relaxar..... (ao religioso) Vamos logo que eu já estou pensando em aumentar a sua pena! Quanto mais me encher o saco, maior será a sua sentença! Vamos! Se avie, homem!
RELIGIOSO: Bem, já que é a única sentença proferida e que não poderei apelar a mais nada, o jeito é me resignar e ir-me antes que as coisas piorem de jeito por aqui.. Fui! (entra, finalmente)
BOBA: Achou um bom cantinho aí, ao lado desse bonequinho todo encarapitado, se achando o dono do inferno da pedra, não foi, seu religioso de meia-tigela? Canto melhor os está aguardando é no inferrnnno!!!! Huhuhu!!!
RELIGIOSO: (tira uma garrafa cheia e bebe um gole, fazendo uma careta horrenda depois): O que é isso?!?.... guaraná?!?...
DIABA: Isso é só por ter demorado a se decidir, me fazendo perder tempo, seu miserável, hahahah...

CENA 4 – Os mesmos, Vanderleia Kelly e Bebel

Música: Só as cachorras (Bonde do tigrão), entra Valquíria Kelly com roupa de prostituta

DIABA: (Enquanto ela dança a diaba olha e diz): Aff... que modelito brega, só pode ser de brechó! Quem são vocês eihn? suas mal-amadas?

BEBEL: eu sou Bebel, amiga intima e confidente da Lady Kate – que que é? to pagano!!!

VANDERLEIA KELLY: só porque é amiga daquela branquela que nunca consegue entrar para a high Society (Raí saçaite) se acha. Eu sou Vanderleia Kelly – Kelly com K, dois LL e y no final – a seu dispor. E você? Quem é?

DIABA: Eu sou a mamãe Noel e esse aqui é meu trenó que DÁ presente pra todo mundo hahaha

BEBEL: uiaaaaaa..... (olha maliciosamente para o publico) essa barca da luz vermelha eu não conhecia!!! Uiiiii... deve ser no embalo das ondas...

DIABA: Vixe!!! Você vai perceber o fogo que vai sentir aqui dentro (ri sarcasticamente para a platéia)

VANDERLEIA KELLY: Vamos fazer um cruzado pelos mares mais revoltosos da terra.

DIABA: por 1.000 diabos, além de brega ainda é burra! Fazer um CRUZEIRO, sua anta!!!

VANDERLEIA KELLY: Mais eu quero ser a comandanta, vou mudar muita coisa por aqui, a começar por essa barcaça velha. Quero uma nova, colorida, cheia de luzes...

DIABA: Hahahaha! Ainda querem exigir. (Para o público) Elas não sabem o que as esperam hahahaha...

RELIGIOSO: Vem cá gatinhas! Vamos curtir a eternidade juntos.

VANDERLEIA KELLY: Você paga bem é??? (insinuando-se para o religioso)

BEBEL: ééé tem que pagar bem mesmo, porque lá na outra vida nóis era tão pobre que calçava sofá quebrado com tijolo e tomava cerveja em copo de requeijão (Ai que inveja da Lady Kate)

RELIGIOSO: O quanto vocês quiserem, por dia recolho sacos e sacos de dinheiro (fala esfregando polegar e indicar e olhando para o publico) – causo de que grana eu tenho. E ainda dizem que dinheiro não traz felicidade...

PLAYBOY: Que sujeitinho mais desqualificado! Um Alcântara de Lamartine e Belucci jamais entra numa barca furada dessa (apontando para Valquíria Kelly) queremos quengas de luxo.

(Vanderleia Kelly vai entrando na barca)

VANDERLEIA KELLY: Epaaaa....mais espere ai, que cheiro estranho de enxofre com CC é esse?

DIABA: deve ser o cheiro dos seus pecados, agora vocês terão que dar conta de cada um deles, não tem mais como escapar.

VANDERLEIA KELLY: Então quer dizer que nós batemos as botas mesmo é?

DIABA: É isso ai suas messalinas, agora vocês vão agenciar quengas no INFERNO!!!

BEBEL: (assustada) Que a santa das prostitutas nos protejam!

VANDERLEIA KELLY: Nãooooooo!!! Somos pessoas boas, sempre fizemos muitas obras de caridade, sempre demos aos pobres e necessitados.

DIABA: Você nunca ouviu aquele ditado que diz: é DANDO que se recebe? Você tanto DEU que agora vai receber... no bordel do demo hahaha entra logo e aproveita bem a vida (ops! A morte), você e o religioso de meia tigela vão se dar muito bem hahahaha

VANDERLEIA KELLY: (entrando na barca encontra o religioso e diz: hahaha bem feito seu religioso de uma figa, sua religião tanto me criticou e olha o seu fim, igual ao meu hahahaha! É muito fácil falar de Deus, o difícil é viver o que ele manda.

CENA 5 – Os mesmos e Adevogado

DIABA: Ihhh... esse é liso que nem quiabo!

ADEVOGADO: Boa tarde excelentíssima, sou adevogado da décima quarta vara regional federal, um homem respeito e venerado por todos, tenho muitos casos e muito dinheiro a ganhar e não sei porque ruminância estou aqui.

DIABA: Ahhh! Sabe não é??? Lembra daquele assassino playboy que ateou fogo num índio DORMINDO que você inocentou? Lembra daquele pedófilo que abusou da própria filha de 10 anos e nem sequer foi para a cadeia? Lembra da GRANA que você recebeu daquele jogador que esquartejou a amante e queria matar o próprio filho? E tem mais, deixa eu pensar...

ADEVOGADO: (para a platéia) que falta de menosquência!!! A questão é a seguinte senhorita: esse era meu labor, sou um homem rico, honrado e merecedor do espaço infinito onde se movem os astros, por isso estou a me dirigir para aquela cafona embarcação costeira onde se emprega na cabotagem (dirije-se para a anja): Ente puramente espiritual, dotado de personalidade própria , superior aos homens e aos demais seres terrenos, segundo meu processo posso me considerar inocente, pois fui um homem reto, justo e integro.

ANJA: Reto? Justo? Integro? Faça-me rir seu advogado do diabo, pensa que me engana com essa ladainha difícil? Você está condenado a viver (ou a morrer, sei lá) a eternidade no fogo do inferno junto com aqueles que você inocentou.

ADEVOGADO: (chorando um choro nitidamente falso) quero voltar e me redimir de meus pecados, serei pastor ou padre, vou fundar uma igreja e levar MUITOS a ter uma vida digna.

DIABA: ihhh! Vamu pará com essa choradeira que aqui nesse cais tem detector de mentira e de pilantra. E todo mundo ta cansado de saber que, de boas intenções, o inferno ta cheio, pergunta para aquele “religioso” ali pra você ver, e aproveita e já se refresca com o guaranazinho quente e sem gás dele. (o adevogado entra, toma um gole do refrigerante e cospe)

ADEVOGADO: Aff! Isso é pior que presídio de segurança máxima!

CENA 6 – Os mesmos e Bin Lada

Musica:

DIABA: Opa! Esse ai tem passaporte vip! Vai direto para o colo do chifrudo hahaha

BIN LADA: "Achadu ala ilaha ila Allah. Achadu ana Mohammad Rassululah" finalmente chegou o dia em que serei coroado por meus atentados e explosões. Alá me dará o paraíso com milhares de virgens... (olha para a platéia com ar de safado)

DIABA: hahaha virgens??? Isso é mais difícil de achar que agulha em palheiro meu filho, pode tirar seu camelo da chuva.

BIN LADA: Alá me prometeu milhares de virgens, quanto mais injustos matei na terra, mais donzelas terei no céu. Humm só com a explosão das torres gêmeas, imagine quantas virgens já não acumulei!!! (ri maliciosamente para a platéia)

DIABA: ô coitado!!! E você acha que um velho como você dá conta de um monte de donzelas? Não deve ta dando conta de mais nenhuma hahaha

BIN LADA: Ta duvidando é camelinha ajeitada???

DIABA: Olha pra mim velho fidido, acha que vou querer um ultrapassado feito você. Sou uma mulher da moda!

BIN LADA: Castigar-vos-ei com 100 chicotadas como ordena o alcorão, pois além de recusar um companheiro de Maomé, isso são vestes que uma mulher (para a platéia: que é beeeem inferior aos homens) deve vestir? Deves vestir-se com aquela burka que só aparece os olhos através da redinha (riso sarcástico para a platéia)

DIABA: êêê veio atrasado!!! O que é bonito é pra ser mostrado, mais vocês são manés mesmo, te falar viu!!!

BIN LADA: Minha barca não é essa, minha predestinação é viver no paraíso ao lado de Maomé com a mulherada toda, pois morri no jihad defendendo os direitos de Alá, por isso já tenho vida eterna garantida.

ANJA: É Alá mesmo (e mostra a barca), porque aqui não é não!

BIN LADA: Que diabo de anja mais esquisita é essa?

ANJA: (olhando para o céu) Daí-me paciência! É cada freguês que me aparece!!!

BIN LADA: (confuso) E como não herdarei o céu se vivi conforme os costumes do Alcorão? Há tantas religiões no mundo, como saber qual é a certa? Cada um vive e morre defendendo suas crenças e querendo obrigar aos outros a aceitá-la

ANJA: É muito simples meu caro, basta ser limpo de mão e puro de coração, como aqueles famosos cavaleiros que viveram dignamente e morreram por amor a Cristo...

Vem três cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a cruz de Cristo, pois morreram em poder dos mouros por causa de sua fé. São inocentes e privilegiados os que assim morrem.

CAVALEIROS:


À barca, à barca segura,

barca bem equipada,

à barca, à barca da vida!

Senhores que trabalhais

pela vida transitória,

memória , por Deus, memória

deste temeroso cais!

À barca, à barca, mortais,

Barca bem equipada,

à barca, à barca da vida!

Vigiai-vos, pecadores,

que, depois da sepultura,

neste rio está a sorte

de prazeres ou dores!

À barca, à barca, senhores,

barca mui enobrecida,

à barca, à barca da vida!


E passando adiante da barca da diaba assim cantando, com suas espadas e escudos, disse a diabao Arrais da perdição desta maneira:

Diabo — Cavaleiros, cêis passam e nem perguntam onde devem ir?

1º CAVALEIRO: Não desconfia não ô sua tapada?

2º CAVALEIRO: vivemu feito umas besta, todo mundo fazia nóis de tonto, amamos e só levamos na cara, morremos por Cristo no norte da África (antes do final da copa do mundo ainda – nem deu tempo de ver o jogo da Espanha e Holanda). Ahh e chega neh nem preciso falar mais nada...

Diabo: Ahh seus bobões, então entrem nessa barca e aproveitem a vida (ou a morte) (riso sarcástico para o publico)

3° CAVALEIRO: ô sua besta, quem morre por Jesus Cristo não vai nessa sua barca fidida não derrr

Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:

Anjo — Ó cavaleiros de Deus, a vós estou esperando, que morrestes pelejando por Cristo, Senhor dos Céus! Sois livres de todo mal, mártires da Santa Igreja, que quem morre em tal

peleja merece paz eternal.

E assim embarcam, e o bobo os segue.


Peça teatral retirado do site http://papeldearte.blogspot.com/2009/07/auto-da-barca-do-inferno-figuras.html e adaptado e finalizado por Sonia Medeiros de Barros.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Cursos on-line gratuitos

Prezados (as) Colegas,

Na página da Fundação Getúlio Vargas estão disponíveis cursos on-line gratuitos. Vale a pena conferir!

http://www5.fgv.br/fgvonline/cursosgratuitos.aspx